sexta-feira, 22 de fevereiro de 2008

JANAÍNA E JACI


Em uma aldeia de Chiricahua, reinava a paz e a harmonia. Ali os índios viviam em perfeita união. Trabalhavam, plantavam, pescavam e tudo para eles era motivo de festa; seguiam a risco às suas leis.

Suas índias quando nasciam já eram prometidas ao filho mais velho de cada chefe de família. E assim, quando cresciam sua sorte já estava traçada e nada poderiam fazer. Cresciam com naturalidade e casavam-se muito cedo, aos 15 anos.

Em uma manhã ensolarada, céu de nuvens muito azuis, nasceu Janaína; Uma linda indiazinha. Para ela seu destino estava traçado, teria que se casar com Ubiraci o filho mais velho do pajé.

Janaína foi crescendo juntamente com um menino de sua idade. Eles eram inseparáveis, sempre juntos a brincar. O nome dele era Jaci, um indiozinho bastante esperto e valente.

Passados alguns anos...

Pela manhã, logo cedinho, Janaína ouviu chamar seu nome:

_ Janaína, Janaína, venha!

Janaína saiu de sua tenda e encontrou Jaci a sua porta, todo alegre e sorridente!

_ O que foi Jaci? Por que toda esta alegria?

_ Venha, Janaína! Quero mostrar-lhe algo!

_ O que é? Diga-me logo?

_ Não, venha, ver! Esperei muito por este momento!

SAÍRAM ENTÃO OS DOIS CORRENDO E FORAM ATÉ ÁS MARGENS DE UM LAGO.


Lá, Janaína muito curiosa, disse:

_ Vamos logo com isto, diga-me por que me trouxe aqui?

Jaci, com os olhos cheios de ternura, a pegou em sua mão, levou-a até uma bela árvore e lá estava, o seu tesouro!

Ali crescia com uma cor magnífica um lindo pé de Manacá!

_ Janaína, aqui está o meu tesouro!

_ Plantei para você e cuidei dela até que ela se tornasse uma árvore, tão formosa como você.

_ Hoje, ela floriu e está toda perfumada!

_ Respira fundo! Sinta o seu perfume!

_ Que linda! Obrigada, Jaci! Por que me fizeste segredo, nunca me contou sobre ela?

_ Porque queria lhe fazer uma surpresa e jurei a mim mesmo que quando ela florescesse, eu abriria meu coração a você.

_ O que você quer dizer com isto, Jaci?

_ Janaína, estamos já nos tornando um homem e uma mulher e todos estes anos, sentia crescer em mim um amor muito grande, um amor infinito. Não a via como uma irmã, eu a via como esta linda flor de manacá em meu coração.

Assustada, Janaína escondeu o seu rosto com suas mãos e começou a chorar. Jaci ficou surpreso, não esperava por esta reação.

_ O que foi Janaína, você não gostou? O que fiz de errado, diga-me, por que choras assim? Eu a magoei?

Janaína entre soluços e com seus olhos encharcados de lágrimas respondeu:

_ Não Jaci, não é isto! Você não me magoou e sim me fez muito feliz. Meu coração também se enche de alegria por você. Não o vejo como meu amigo e sim como o homem que dei o meu coração, mas tudo isto é uma loucura, não podemos, você se esqueceu do Ubiraci que sou sua prometida!

_ Não, não me esqueci! Todos estes anos venho sofrendo, coração torturado, com medo de que você não correspondesse ao meu amor e se casasse com Ubiraci.

_ Como o odeio!

_ Não fale assim Jaci, Ubiraci também não tem culpa. Nossos pais assim o quiseram e são assim as nossas leis.

Jaci então, tomou-a em seus braços e com um longo e apaixonado beijo se uniram. Seus corpos se entrelaçaram e na relva verde e sombria se deitaram.

Quando deram por si, a noite já havia caído e Janaína em desespero pôs-se a correr.

Jaci a seguiu até a aldeia.

Passado-se alguns dias comemorava-se o aniversário de Janaína, os seus 15 anos.

Ubiraci todo garboso esperava por sua prometida. Quantos anos de espera!

A aldeia estava em festa. Os homens dançavam ao redor de uma fogueira, com seus gritos e adornos. As mulheres preparavam a comida.

O pajé rogava aos deuses chuvas de bênção.

Janaína já vestida conforme a tradição encontrava-se com o coração aflito e com seus olhos marejados de lágrimas.

Jaci a contemplava com o coração em pranto. O que fazer? Sua amada estava prestes a casar-se e jamais a teria. " Que loucura meu Deus! Nada se podia fazer! Ela jamais seria minha! Mas de Ubiraci também não seria! Eu Juro!"- pensava Jaci.

O Pajé fez um sinal com a mão. E todos se calaram.

É chegado o momento tão esperado.

Ubiraci postou-se ao lado de seu pai e procurou com os olhos a sua amada.

"Onde estaria ela? Por que não estava no lugar que deveria estar"? Começou então a procura de Janaína. Não encontrou-a em nenhum lugar da aldeia.

Jaci havia desaparecido também. Passaram à noite toda a procura dos dois.

Pelo amanhecer, Ubiraci e seu amigo Tupi encontraram-se nas margens do lado. E qual foi a surpresa e a dor em seu coração. Parecia que um punhal havia-lhe atravessado o peito. Embaixo do pé de Manacá, encontrava-se o corpo do seu amor abraçado ao de Jaci.

_Oh! Meu amigo! Que tristeza! Perdi o meu amor para sempre!

Janaína, Jaci e seu Manacá estavam paralisados. Seus corpos estavam sem vida, como também aquela bela árvore. Haviam virado estátuas.

Tupi muito assustado com o que via disse:

_ Ubiraci, o que está acontecendo?

Ubiraci com lágrimas nos olhos e engasgado pela emoção, não pode responder.

E lá, bem no alto, no meio das nuvens, num céu muito azul, dois anjos felizes volavam, volavam e estavam tão enamorados que não perceberam que estavam voando e que haviam virado serafins. Eram Janaína e Jaci.

As fadas Cairé(lua cheia)e Catiti(lua nova), as deusas indígenas do amor, com suas varinhas mágicas, transformaram os seus corpos em estátuas e suas almas em anjos, tudo em nome do amor, para que eles pudessem vivê-lo em paz.

Assim Janaína e Jaci foram felizes e de uma lágrima que caiu dos olhos de Janaína, nasceu um outro lindo pé de Manacá!

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